Para um grande número de empresas, inovação está associada a novos produtos. Mas na realidade a inovação de produtos é apenas um dos vários tipos de inovação possíveis. E, frequentemente, o mais fácil de ser copiado.
Por outro lado, a inovação a nível do modelo de negócios é responsável por grande parte das soluções diferentes que transformaram os mercados nas últimas décadas. Pense no modelo de negócios a partir dos componentes propostos por Alexandre Osterwalder, em seu livro “Business Model Generation”: proposta de valores, relacionamentos, canais, geração de receita, custos, parceiros, atividades e recursos. Agora imagine que você pode inovar em cada um destes componentes, ou em combinações deles. Para mim, essa é maior oportunidade que as empresas têm para inovar.

Um excelente exemplo é a Netflix. À época em que a Netflix nasceu (1997), o mercado de fitas VHS era dominante. Você abria uma conta em uma videolocadora e ia até a loja selecionar seus filmes, alugando-os por uma prazo determinado. Se houvesse atraso na devolução, você pagava uma taxa de atraso sobre o preço normal da locação. A Netflix percebeu duas coisas. Primeiro, que esse modelo poderia ser bem melhor para o usuário. E segundo, que os DVDs estavam ganhando espaço no mercado. O serviço inicial da Netflix foi então permitir ao usuário escolher seus DVDs online, através de um website, e então remetê-los por correio para a casa do usuário. Isso foi um grande salto para a época (inovaram no relacionamento, no canal e na oferta de valor).
Logo em seguida (1 ano após) este modelo evoluiu para um modelo de assinatura (inovação na geração de receita), em que o usuário tinha direito a receber um determinado número de DVDs por semana por uma assinatura mensal fixa. Seu maior concorrente na época era a Blockbuster, que demorou muito a oferecer um serviço similar. Mas quando isso aconteceu, a Netflix já estava inovando pela terceira vez em seu modelo de negócios, migrando para um serviço de streaming de vídeo online – algo em que estava à frente de quase todo o mundo. E descontinuando sua operação de locação de DVDs.

A terceira inovação que a Netflix empregou foi quando se tornou seu próprio estúdio de cinema, criando seu próprio conteúdo, como a série House of Cards.
Um dos motivos mais importantes pelos quais a Netflix tornou-se um modelo de negócios exponencial é que os fundadores tiveram a capacidade de olhar seu modelo de negócios na posição de um observador externo. Eles nunca ficaram satisfeitos com a forma que o modelo de negócios estava em um determinado momento, e estavam sempre olhando para onde o mercado se encaminhava nos 5 a 10 anos que se seguiam. Eles combinaram inovações em vários componentes do modelo de negócios, sempre procurando novas maneiras de resolver problemas para muitos clientes, e fazê-lo com serviços digitalizados (uma oferta baseada em dados) e usando uma abordagem enxuta.
Por exemplo, a Netflix aceitou já em 2007 que o negócio de aluguel de DVD não era mais lucrativo o suficiente. Eles entenderam que as pessoas não queriam apenas alugar vídeos, mas que estariam dispostas a pagar por uma oferta maior e mais fácil de usar, pelo conforto de pedir um vídeo do seu sofá e por não ter problemas com a devolução dos vídeos. Eles previram a mudança, usaram sua experiência em TI para criar soluções digitais adequadas e a implementaram de forma enxuta. Essas mudanças mostram como a Netflix está disposta a destruir seu próprio modelo de negócios para inovar e ficar à frente de seus concorrentes.
Tenho certeza de que a Netflix já deve estar trabalhando em sua próxima iteração de como vai inovar seu modelo de negócios para continuar pressionando sua liderança. Alguém quer filmes de realidade virtual aí?